Germain
é um cinquentão quase analfabeto, aparentemente bruto e rude que
convive, desde a infância, com a intolerância. Marguerite é uma
senhora de mais de noventa anos apaixonada por livros. Um dia, por
acaso, ele senta ao lado dela em um banco na praça. Ela recita em
voz alta versos dando assim, a ele a chance de descobrir a magia dos
livros, que nunca fizeram parte de sua vida. A partir desse dia,
religiosamente eles se encontram para a leitura e aos poucos ela o
traz para o mundo das palavras. Mas Marguerite está perdendo a visão
e pelo carinho e afeto que serão criados dessa relação, Germain
aprenderá a ler, para mostrar que pode fazer, quando ela não puder
mais. O
filme trabalha a amizade e a relação livro-leitor. O cenário de
cidade do interior francês e o tema são fatores que chamam a
atenção. O encantamento com a possibilidade
de interlocução, o afeto e suas várias formas de expressão são
as entrelinhas que costuram a narrativa.
Desses elementos pode-se compreender como ocorre a construção e
elaboração de crenças, comportamentos, atitudes, valores, opiniões
e hábitos do cotidiano na vida do ser humano. Baseado no livro de
Marie-Sabine Roger e dirigido com simplicidade e sensibilidade por
Jean Becker, o filme se desenvolve em torno do improvável encontro
dos dois, mas também a partir das lembranças de infância de
Germain, de seu namoro com alguém que o compreende, de seus amigos
no cotidiano da pacata cidade em que vive. Minhas
tardes com Margueritte é um filme que fala
das diferenças que, mais que atrair, complementam as pessoas. As
vidas, envolvidas nas tramas e tragédias da própria história,
expõem-se nos limites e nas possibilidades de busca pelo melhor de
si.
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014
FILME 3: Entre os muros da escola
O
filme é o retrato da ação pedagógica do Professor François com
uma turma de adolescentes entre 13 e 15 anos. Ambientada em uma
escola pública de Paris, sua trama acompanha o cotidiano dessa
turma, focando a relação dos alunos com o professor e os métodos
utilizados por este para tentar contornar os inúmeros conflitos que
surgem a cada instante. O roteiro adquire um tom quase documental ao
retratar a sala de aula sem qualquer tipo de maniqueísmo. Em seu
desenvolvimento ficam evidentes erros cometidos tanto pela escola,
quanto pelo professor e pelos estudantes. O professor é um
apaixonado pela arte de educar, sua determinação em fazer com que
cada um dos alunos tenha condições de subverter o determinismo de
suas vidas é louvável, porém, em dados momentos, o que ele faz
parece inútil, uma vez que os resultados de seu esforço não são
tão perceptíveis. Nesse quesito, a sua angústia ao sentir-se
incapaz diante da turma que coordena parece quase palpável em
diversos momentos. A
classe que o filme acompanha é uma miscelânea de etnias, estilos e
crenças, podendo ser considerada um reflexo da população francesa,
composta em boa parte por imigrantes. Neste curioso microcosmo é
possível ver estampados o preconceito contra o diferente, a
desigualdade social e principalmente a violência, que insurge como
uma resposta dos adolescentes às duras realidades em que vivem. É
interessante perceber que mesmo o professor, que poderia ser visto a
princípio como o herói da história, acaba também sendo vítima
das divisórias invisíveis que aparentam manter cada um dos
personagens segregado dos demais. A trama se mantém firme em seu
propósito de funcionar apenas como um recorte social, isento de
verdades absolutas e incapaz de apontar soluções fáceis para os
problemas expostos. A
intenção do filme não é a de se posicionar como uma crítica ao
sistema educacional, o que ele faz é tão somente criar um recorte
realista do modelo pedagógico adotado pela escola, que é semelhante
ao trabalhado em inúmeras instituições de ensino brasileiras.
(Baseado
em J. Bruno,
http://sublimeirrealidade.blogspot.com.br/2013/03/entre-os-muros-da-escola.html)
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