sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

APRESENTAÇÃO DO AUTOR E DO CADERNO TEMÁTICO



Compreender supõe, antes de tudo, perguntar-se algo
e abrir com isso um espaço de novas significações e sentidos.
(Josep Maria Puig)

O que importa para mim, querida Sofia, é que você não esteja entre aqueles
que consideram o mundo uma evidência.
(Jostein Gaarder)




O material que ora se apresenta é resultado de pesquisa bibliográfica e de campo sobre o trabalho docente dos professores da escola pública de Educação Básica e direciona-se a estes sujeitos como fonte de estudos e reflexão.
O interesse pela compreensão de como ocorre a construção da identidade e profissionalidade do professor vem acontecendo ao longo da minha carreira como docente, pedagogo e gestor na educação pública.
Em 1996 iniciei o curso de Pedagogia, na Universidade Estadual do Centro-Oeste, em Guarapuava e também minha atividade profissional como professor alfabetizador de jovens e adultos, no Centro de Estudos Supletivos (CES), no município de Pinhão, no estado do Paraná. Desenvolvi trabalho junto a trabalhadores domésticos, trabalhadores rurais, presidiários e operários da indústria madeireira, bem como com outras categorias de trabalhadores que se encontravam em situação de analfabetismo.
No ano 2000 fui aprovado no concurso do Paranaeducação - Serviço Social Autônomo vinculado à Secretaria de Estado da Educação - assumindo também no CES, agora denominado Centro Estadual de Edução Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) a função de Supervisor de Ensino.
Em 2002 realizei curso de Pós graduação na Universidade Norte do Paraná e aprimorei a compreensão sobre o fenômeno educacional. Desenvolvi estudo sobre a motivação dos alunos jovens e adultos.
No ano de 2003 transferi-me para escola de ensino regular, Colégio Estadual Santo Antonio, onde desenvolvi trabalho junto aos professores na função de Supervisor. Nesse mesmo período, também coordenei a implantação do Programa de Educação de Jovens e Adultos junto à Prefeitura Municipal de Pinhão, estabelecendo parceria junto ao Serviço Social da Indústria (SESI) de Guarapuava.
Em 2005 realizei concurso público e assumi a função de Professor Pedagogo neste Colégio. Nessa escola, entre os anos de 2006 – 08 desenvolvi trabalho no âmbito da Gestão, coordenando, como diretor auxiliar, o período noturno.
A partir de 2009 mudei-me para Curitiba, atuando no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo - Ensino Fundamental, Médio e Profissional, no qual, entre outras atividades, coordenei a construção do Projeto Político Pedagógico e implementei os encontros semanais dos gestores e equipe pedagógica com o objetivo de constituir coletivos de trabalho e consolidar a “linguagem em comum” entre os profissionais da instituição. No ano de 2012 atuei como diretor do turno da tarde, priorizando a organização do trabalho pedagógico, enfocando a participação dos alunos e professores em atividades culturais de música, teatro, cinema, visitas orientadas, etc. e estabeleci parcerias com Fundação Cultural, Casa da Leitura e Secretaria Municipal Antidrogas. No período noturno dessa escola, minha atuação dirigiu-se principalmente na consolidação do trabalho pedagógico junto aos coordenadores e professores atuantes na Educação Profissional.
Em 2012, por meio de concurso, fiz remoção para o Colégio Estadual do Paraná (CEP), sendo esta a instituição na qual o estudo sobre a Identidade e a Profissionalidade Docente ocorrerá, bem como a implementação do Projeto.
E foram nessas três instituições públicas estaduais (CES, Santo Antonio e Zardo) que aconteceram observações, vivências, discussões e reflexões que despertaram meu interesse em analisar mais profundamente a prática docente. Não na intenção ingênua de tentar “ensinar o peixe a nadar”, mas imbuído pelo compromisso em refletir, revisitar, reelaborar e, sobretudo, analisar as formas de ser professor, repensar as possibilidades de atuar com coerência considerando os limites impostos pelas situações políticas e sociais, bem como pelas condições e necessidades.
Esses limites e possibilidades tem feito que, ao longo dos anos, tem contribuído para que eu observe que escola pública atuam professores que pouco se comprometem com o processo de ensino aprendizagem, comportando-se com indiferença e desilusão, cinismo ou ceticismo com o trabalho pedagógico. São profissionais iniciantes, com bagagem experiencial, em final de carreira. A este grupo, percebo também aqueles que atuam de modo ético, crítico e comprometido, em diferentes estágios da profissão, com diversas vivências escolares e, sobretudo, buscando inovar em suas práticas pedagógicas. E são a esses professores que minha atenção se volta, com intuito de compreender o que eles possuem em sua atuação profissional que os diferencia positivamente no coletivo escolar.
A partir de observações, diálogos, intervenções pedagógicas, discussões, reflexões, leituras e tentativas de acerto, fui formulando várias hipóteses a respeito desses professores. Uma dessas hipóteses tem sido sobre como acontece a construção da identidade profissional. Para isso tenho buscado subsídios nas teorias do conhecimento, nas práticas escolares, nas tarefas rotineiras e no diálogo com os professores. A partir das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), articuladas na Universidade Federal do Paraná, tornou-se possível sistematizar as questões que fazem parte das minhas reflexões pedagógicas e análises educacionais.
Propus-me a dialogar com os professores do Colégio Estadual do Paraná para conhecer deles a história pessoal de início na profissão docente. Por meio da Memória Pedagógica busquei relatos, registrados na ferramenta Blog, das histórias de como se deu a escolha pelo curso de licenciatura e como foi o primeiro contato com a docência.
Compreendo que o professor da escola pública estadual vivencia inúmeras situações e enfrenta diferentes condições de trabalho. Estudar o cotidiano da ação docente é um exercício que exige sensibilidade e senso crítico, uma vez que envolve as histórias de vida, os processos culturais, as crenças, os posicionamentos, os pensamentos, as verdades de cada um.
Assim, construí a ideia da necessidade, pedagógica e social, de, ao explorar a práxis docente na escola pública da educação básica, também investigar a construção da identidade profissional e observar as dificuldades oriundas das condições de trabalho. Com isso, pretendi analisar as razões, as motivações e os elementos constitutivos da identidade profissional e dos saberes docentes dos professores da educação básica no CEP.
Recorri, então, às reflexões de Paulo Freire sobre o ato de educar, elaboração dos saberes docentes de Maurice Tardif e formação do professor reflexivo de Donald Schön. Com esses educadores, foi possível lançar as redes no campo intelectual sobre a profissionalidade do professor e embasar as hipóteses de construção da identidade profissional.
Essas reflexões, pautadas também nas vivências pedagógicas em escolas da rede estadual, resultaram neste Caderno Temático, o qual está organizado da seguinte maneira:
No primeiro texto há uma breve reflexão sobre o professor e a escola no mundo contemporâneo, sinalizando as situações impostas pelo processo de globalização, que, em certa medida, interferem na ação docente.

No segundo texto analisa-se a questão da constituição da identidade do professor, forjada inicialmente na licenciatura por meio de elementos técnicos e, lapidada pelo cotidiano, ao construir os saberes docentes da prática, de acordo com Maurice Tardif.

No terceiro texto há um aprofundamento teórico sobre a categoria habitus, de Pierre Bourdieu, e o conceito de profissionalidade, sendo que bem compreendidas, permitem ao professor enfrentar os desafios imponderáveis da profissão.


No quarto texto há uma breve explanação a respeito do ato de educar, elucidado pelo pensamento educacional de Paulo Freire, enaltecendo a postura competente e compromissada com o processo de ensino aprendizagem. Também uma exposição sobre os contextos de adversidade que dificultam o trabalho do professor.


No quinto texto apresenta-se a possibilidade de constituir-se como professor reflexivo, a partir do conhecimento específico e ligado à ação. Aprofunda-se a categoria professor-reflexivo, de Donald Schön, e os conceitos reflexão-na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão sobre a reflexão na ação.


Ante a isso, concretizam-se neste material as reflexões oriundas da prática, a teorização refletida e o desejo por uma educação pública melhor e mais crítica. Creio que, sendo o professor um profissional reflexivo, ciente de sua responsabilidade e do seu compromisso social, envolvido em sua formação intelectual e competência técnica, é possível transformar o ensino e construir um espaço-escola de bem viver, de ensinar com convicção e de aprender com humildade.

Alexandro Muhlstedt1

1 Professor Pedagogo da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná. Atua no Colégio Estadual do Paraná (CEP), em Curitiba. E-mail: supervisorlaex@seed.pr.gov.br

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