Compreender
supõe, antes de tudo, perguntar-se algo
e
abrir com isso um espaço de novas significações e sentidos.
(Josep
Maria Puig)
O
que importa para mim, querida Sofia, é que você não esteja entre
aqueles
que
consideram o mundo uma evidência.
(Jostein
Gaarder)
O material que ora se apresenta é
resultado de pesquisa bibliográfica e de campo sobre o trabalho
docente dos professores da escola pública de Educação Básica e
direciona-se a estes sujeitos como fonte de estudos e reflexão.
O interesse pela compreensão de como
ocorre a construção da identidade e profissionalidade do professor
vem acontecendo ao longo da minha carreira como docente, pedagogo e
gestor na educação pública.
Em 1996 iniciei o curso de Pedagogia,
na Universidade Estadual do Centro-Oeste, em Guarapuava e também
minha atividade profissional como professor alfabetizador de jovens e
adultos, no Centro de Estudos Supletivos (CES), no município de
Pinhão, no estado do Paraná. Desenvolvi trabalho junto a
trabalhadores domésticos, trabalhadores rurais, presidiários e
operários da indústria madeireira, bem como com outras categorias
de trabalhadores que se encontravam em situação de analfabetismo.
No ano 2000 fui aprovado
no concurso do Paranaeducação - Serviço Social Autônomo vinculado
à Secretaria de Estado da Educação - assumindo também no CES,
agora denominado Centro Estadual de Edução Básica para Jovens e
Adultos (CEEBJA) a
função de Supervisor de Ensino.
Em 2002 realizei curso de Pós
graduação na Universidade Norte do Paraná e aprimorei a
compreensão sobre o fenômeno educacional. Desenvolvi estudo sobre a
motivação dos alunos jovens e adultos.
No ano de 2003 transferi-me para
escola de ensino regular, Colégio Estadual Santo Antonio, onde
desenvolvi trabalho junto aos professores na função de Supervisor.
Nesse mesmo período, também coordenei a implantação do Programa
de Educação de Jovens e Adultos junto à Prefeitura Municipal de
Pinhão, estabelecendo parceria junto ao Serviço Social da Indústria
(SESI) de Guarapuava.
Em 2005 realizei concurso público e
assumi a função de Professor Pedagogo neste Colégio. Nessa escola,
entre os anos de 2006 – 08 desenvolvi trabalho no âmbito da
Gestão, coordenando, como diretor auxiliar, o período noturno.
A partir de 2009 mudei-me para
Curitiba, atuando no Colégio Estadual Professor Francisco Zardo -
Ensino Fundamental, Médio e Profissional, no qual, entre outras
atividades, coordenei a construção do Projeto Político Pedagógico
e implementei os encontros semanais dos gestores e equipe pedagógica
com o objetivo de constituir coletivos de trabalho e consolidar a
“linguagem em comum” entre os profissionais da instituição. No
ano de 2012 atuei como diretor do turno da tarde, priorizando a
organização do trabalho pedagógico, enfocando a participação dos
alunos e professores em atividades culturais de música, teatro,
cinema, visitas orientadas, etc. e estabeleci parcerias com Fundação
Cultural, Casa da Leitura e Secretaria Municipal Antidrogas. No
período noturno dessa escola, minha atuação dirigiu-se
principalmente na consolidação do trabalho pedagógico junto aos
coordenadores e professores atuantes na Educação Profissional.
Em 2012, por meio de concurso, fiz
remoção para o Colégio Estadual do Paraná (CEP), sendo esta a
instituição na qual o estudo sobre a Identidade e a
Profissionalidade Docente ocorrerá, bem como a implementação do
Projeto.
E foram nessas três instituições
públicas estaduais (CES, Santo Antonio e Zardo) que aconteceram
observações, vivências, discussões e reflexões que despertaram
meu interesse em analisar mais profundamente a prática docente. Não
na intenção ingênua de tentar “ensinar o peixe a nadar”, mas
imbuído pelo compromisso em refletir, revisitar, reelaborar e,
sobretudo, analisar as formas de ser professor, repensar as
possibilidades de atuar com coerência considerando os limites
impostos pelas situações políticas e sociais, bem como pelas
condições e necessidades.
Esses limites e possibilidades tem
feito que, ao longo dos anos, tem contribuído para que eu observe
que escola pública atuam professores que pouco se comprometem com o
processo de ensino aprendizagem, comportando-se com indiferença e
desilusão, cinismo ou ceticismo com o trabalho pedagógico. São
profissionais iniciantes, com bagagem experiencial, em final de
carreira. A este grupo, percebo também aqueles que atuam de modo
ético, crítico e comprometido, em diferentes estágios da
profissão, com diversas vivências escolares e, sobretudo, buscando
inovar em suas práticas pedagógicas. E são a esses professores que
minha atenção se volta, com intuito de compreender o que eles
possuem em sua atuação profissional que os diferencia positivamente
no coletivo escolar.
A partir de observações, diálogos,
intervenções pedagógicas, discussões, reflexões, leituras e
tentativas de acerto, fui formulando várias hipóteses a respeito
desses professores. Uma dessas hipóteses tem sido sobre como
acontece a construção da identidade profissional. Para isso tenho
buscado subsídios nas teorias do conhecimento, nas práticas
escolares, nas tarefas rotineiras e no diálogo com os professores. A
partir das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional
(PDE), articuladas na Universidade Federal do Paraná, tornou-se
possível sistematizar as questões que fazem parte das minhas
reflexões pedagógicas e análises educacionais.
Propus-me a dialogar com os
professores do Colégio Estadual do Paraná para conhecer deles a
história pessoal de início na profissão docente. Por meio da
Memória Pedagógica busquei relatos, registrados na ferramenta Blog,
das histórias de como se deu a escolha pelo curso de licenciatura e
como foi o primeiro contato com a docência.
Compreendo que o professor da escola
pública estadual vivencia inúmeras situações e enfrenta
diferentes condições de trabalho. Estudar o cotidiano da ação
docente é um exercício que exige sensibilidade e senso crítico,
uma vez que envolve as histórias de vida, os processos culturais, as
crenças, os posicionamentos, os pensamentos, as verdades de cada um.
Assim, construí a ideia da
necessidade, pedagógica e social, de, ao explorar a práxis docente
na escola pública da educação básica, também investigar a
construção da identidade profissional e observar as dificuldades
oriundas das condições de trabalho. Com isso, pretendi analisar as
razões, as motivações e os elementos constitutivos da identidade
profissional e dos saberes docentes dos professores da educação
básica no CEP.
Recorri, então, às reflexões de
Paulo Freire sobre o ato de educar, elaboração dos saberes docentes
de Maurice Tardif e formação do professor reflexivo de Donald
Schön. Com esses educadores, foi possível lançar as redes no campo
intelectual sobre a profissionalidade do professor e embasar as
hipóteses de construção da identidade profissional.
Essas reflexões, pautadas também nas
vivências pedagógicas em escolas da rede estadual, resultaram neste
Caderno Temático, o qual está organizado da seguinte maneira:
No primeiro texto
há uma breve reflexão sobre o professor e a escola no mundo
contemporâneo, sinalizando as situações impostas pelo processo de
globalização, que, em certa medida, interferem na ação docente.
No segundo texto analisa-se a questão da constituição da identidade do professor, forjada inicialmente na licenciatura por meio de elementos técnicos e, lapidada pelo cotidiano, ao construir os saberes docentes da prática, de acordo com Maurice Tardif.
No quarto texto há uma breve explanação a respeito do ato de educar, elucidado pelo pensamento educacional de Paulo Freire, enaltecendo a postura competente e compromissada com o processo de ensino aprendizagem. Também uma exposição sobre os contextos de adversidade que dificultam o trabalho do professor.
No quinto texto apresenta-se a possibilidade de constituir-se como professor reflexivo, a partir do conhecimento específico e ligado à ação. Aprofunda-se a categoria professor-reflexivo, de Donald Schön, e os conceitos reflexão-na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão sobre a reflexão na ação.
Ante a isso, concretizam-se neste
material as reflexões oriundas da prática, a teorização refletida
e o desejo por uma educação pública melhor e mais crítica. Creio
que, sendo o professor um profissional reflexivo, ciente de sua
responsabilidade e do seu compromisso social, envolvido em sua
formação intelectual e competência técnica, é possível
transformar o ensino e construir um espaço-escola de bem viver, de
ensinar com convicção e de aprender com humildade.
Alexandro
Muhlstedt1
1
Professor Pedagogo da Rede Estadual de Educação Básica do Paraná.
Atua no Colégio Estadual do Paraná (CEP), em Curitiba. E-mail:
supervisorlaex@seed.pr.gov.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário