sexta-feira, 21 de março de 2014

ATIVIDADE PDE

Prezado (a) Professor (a)

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TEXTO 1:
O professor e a escola na sociedade contemporânea

Neste texto há uma breve reflexão sobre o professor e a escola no mundo contemporâneo, sinalizando as situações impostas por um processo global de reorganização, que, em certa medida, interferem na ação docente. Reflete também que a rapidez de informações e o avanço de novas tecnologias modificaram o modo de pensar, de agir e de viver das pessoas.


Neste texto analisa-se a questão da constituição da identidade do professor, forjada inicialmente na licenciatura por meio de elementos técnicos a qual vai sendo lapidada pelo cotidiano e com isso construindo os saberes docentes da prática. Tem como fundamento principal os estudos de Maurice Tardif.


Neste texto há um aprofundamento teórico sobre a categoria habitus, de Pierre Bourdieu, e o conceito de profissionalidade. Ambos os conceitos exigem ser bem compreendidos para permitir ao professor o enfrentamento dos desafios imponderáveis da profissão.


Neste texto há uma breve explanação a respeito do ato de educar, elucidado pelo pensamento educacional de Paulo Freire, enaltecendo a postura competente e compromissada com o processo de ensino aprendizagem. Também uma exposição sobre os contextos de adversidade que dificultam o trabalho do professor.


Neste texto apresenta-se a possibilidade de constituir-se como professor reflexivo, a partir do conhecimento específico e ligado à ação. Aprofunda-se a categoria professor-reflexivo, de Donald Schön, e os conceitos reflexão-na-ação, reflexão-sobre-a-ação e reflexão sobre a reflexão na ação.




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segunda-feira, 10 de março de 2014

CARTAZ DE DIVULGAÇÃO DO PROJETO

Tendo em vista a necessidade de divulgar o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola elaborei cartaz e fixei-o na Sala dos Professores, na sala dos Coordenadores de Disciplina, na sala da Divisão Educacional e no mural da Direção.
Com isso, espera-se a adesão daqueles que tem possibilidade de estudar e refletir sobre a prática pedagógica no Colégio Estadual do Paraná.





quinta-feira, 6 de março de 2014

TEXTO 1: O professor e a escola na sociedade contemporânea

Autor: Alexandro Muhlstedt (2013)
Pedagogo - Colégio Estadual do Paraná


A docência é um processo complexo que supõe uma compreensão da realidade concreta da sociedade, da educação, da escola, do aluno, do ensino aprendizagem, do saber, bem como um competente repensar e recriar do fazer na área da educação, em suas complexas relação e com a sociedade.
(Ildeu Coelho)


Nosso mundo é um mundo uno.
Mas é um mundo dilacerado.
(Roger Garauday)


Ser professor é transforma o discente em sujeito do seu tempo.
(Alfio Brandemburg)







O trabalho é a identidade básica do ser humano, podendo ser definido como “[...] a intervenção intencional e consciente dos homens na realidade, elemento distintivo do homem dos outros animais” (RIOS 1993, p. 33). Saviani (2006) explica que “a essência humana não é, então, dada ao homem; não é uma dádiva divina ou natural; não é algo que precede a existência do homem. Ao contrário, a essência humana é produzida pelos próprios homens. O que o homem é, é-o pelo trabalho. A essência do homem é um feito humano. É um trabalho que se desenvolve, se aprofunda e se complexifica ao longo do tempo: é um processo histórico” (p. 35). A ação sistemática na escola designa, então, o que se pode chamar de trabalho do professor. É a escola o local primeiro onde a ação docente, junto aos alunos, materializa o ensino. Mas que tipo de trabalho é esse?
Saviani (1991, p. 20) esclarece isso, explicando que a educação é um trabalho, situando-se na categoria do trabalho não-material, como produção de ideias, conceitos, valores. Trata-se, em última instância, “da produção do saber, seja do saber sobre a natureza, seja do saber sobre a cultura, isto é, o conjunto da produção humana”. Nessa produção não-material, o ato de produzir e o ato de consumir imbricam-se, diferenciando-se, por exemplo, de atividades – como a produção de livros e objetos de arte – em que o produto se separa do produtor, havendo um intervalo entre produção e consumo.
Ao trabalhar, concretizando o ato de ensinar, o professor depende, dentre outras coisas, das condições de trabalho. Tais condições contribuem para a construção da identidade docente e suas variantes são fatores importantes para a formação daquilo que ocorre na prática. Saviani (2008, p. 43) assevera que quando são precárias, “essas condições neutralizam a ação dos professores”, mesmo que estes sejam bem formados (conhecimentos acadêmicos e técnicos). De modo geral, ilustram essas condições precárias as salas de aula lotadas, baixa remuneração, excessiva carga de trabalho, esgotamento físico e, principalmente emocional dos professores, entre outros. Como consequência, há efeitos subjetivos tais como uma forte sensação de impotência, angústia profissional, desalento e baixa autoestima.
Há muitos estudos sobre as condições de trabalho e saúde dos professores que comprovam a relação direta entre o aumento de fatores estressores no trabalho e níveis elevados de fadiga, alterações do sono, transtornos depressivos e consumo de medicamentos. No trabalho docente, entre os fatores estressores de maior relevância encontram-se os relacionados ao ambiente de trabalho, conteúdo do trabalho, condições organizacionais, estabilidade no emprego, salário, relações sociais no trabalho, carga de trabalho, autonomia, reconhecimento e valorização profissional. Ou seja, são cada vez mais frequentes classes superlotadas, baixos salários, escassos recursos materiais e didáticos, excesso de carga horária, falta de participação nas políticas e planejamento institucionais. O professor tem, ainda, a obrigatoriedade de desempenhar inúmeras funções dentro do âmbito escolar além de ministrar aulas: disciplinador e solucionador de problemas sociais dos alunos, bem como conflitos ocasionados pela expectativa de pais, administradores e comunidade (GASPARINI, BARRETO, ASSUNÇÃO, 2005).
Observa-se que os trabalhadores docentes se sentem obrigados a responder às novas exigências pedagógicas e administrativas, contudo, expressam sensação de insegurança e desamparo tanto do ponto de vista objetivo (faltam-lhes condições de trabalho adequadas) quanto do ponto de vista subjetivo (um exigente carga mental para solucionar problemas).
Há que se pensar, no entanto, que o papel da escola não deve ser o de reprodução da sociedade classista, mas antes o lugar da produção, apropriação e socialização do saber. Esta é a tarefa por excelência da escola. De acordo com Saviani (1997, p. 101) “a escola tem uma função específica, educativa, propriamente pedagógica, ligada à questão do conhecimento; e é preciso, pois, resgatar a importância da escola, e reorganizar o trabalho educativo”. Embora a escola não seja a única responsável pela transformação da sociedade e pelas contradições existentes, a partir dela poderá ser construída uma nova consciência que leve à superação do estado de dominação e desemboque na construção de uma nova ordem social, pois, “a escola não é a alavanca da transformação social, mas essa transformação não se fará sem ela” (GADOTTI, 1984, p.73).
Assim sendo, se analisada a situação de boa parte das escolas públicas, da perspectiva de condições de existência, há o fato desta apenas cumprir, obedecer e pouco “pensar” (MORAES, p. 53) o processo pedagógico que nela se realiza, não se comprometendo efetivamente com o projeto de emancipação do ser humano. Na sala de aula é comum ocorrer a falta de postura filosófica, pedagógica e administrativa por parte de alguns professores, demonstrando com isso pouco compromisso com a educação e resistência em conhecer as diferentes dimensões do fenômeno educativo (MORAES, p. 53). E isso não pode ser tomado como a única fonte do despreparo profissional docente.
Com relação aos alunos, é notável a presença de indisciplina em sala de aula, desatenção sistemática, faltas à aula, baixo aproveitamento do ensino, manifestação de desinteresse e atitudes irresponsáveis, altos índices de desistência e reprovação, entre outros. Com relação aos pais, é elevado o número daqueles que não acompanham a vida escolar do filho e entendem que a sua presença na escola só deve ser feita quando convocado (matrícula, retirada de boletim, problemas de saúde do filho durante o período escolar, etc).
Esse panorama pode ser melhor compreendido a partir da crise atual que toma conta do ser humano em dimensões planetárias. Não há este ou aquele indivíduo, sociedade ou nação atingidos por esta crise, mas todos (HOBSBAWM, 2001). A sociedade contemporânea é constituída, pois, por elementos dessa crise.
Uma das principais características da sociedade atual é o fato desta ser marcada por profundas transformações: a rapidez de informações e o avanço de novas tecnologias modificaram o modo de pensar e de viver das pessoas. Atualmente, as regras e valores já não possuem mais a mesma rigidez de cinquenta anos atrás. Vive-se em um tempo de quebra de modelos e paradigmas.
Moraes (2004, p. 48) explica que na sociedade contemporânea “[...] há uma valorização daquilo que é quantificável, ou seja, dá-se muita importância a aquisição de bens materiais, a expansão, a competição e a obsessão pela tecnologia, decorrentes da valorização do racionalismo crítico, do empirismo e do individualismo e de uma mentalidade manipuladora da era industrial”. Explica também que “vivemos hoje, numa sociedade dominada pelo interesse, pelo lucro, ao mesmo tempo, pela insegurança e pelo medo. Uma sociedade manipulada por interesses políticos, econômicos, sociais e religiosos sem precedentes. Na realidade, vivemos em um mundo cada vez mais globalizado, onde todos nós somos vítimas inocentes dos ataques terroristas e prisioneiros das loucuras alheias. Somos todos vítimas do terrorismo como também de suas represálias. Ao mesmo tempo, somos testemunhas históricas das enormes carências do ser humano, não apenas em termos de conhecimento e educação, mas também de afetividade, amor, solidariedade e espiritualidade” [p. 50].
Agostini (2009, p. 118) analisa que a sociedade contemporânea “descambou no utilitarismo, abriu o caminho ao consumismo, cultivou nacionalismos diversos, idolatrou o poder, resvalou num racionalismo fragmentado, cultivou um individualismo crescente, transmutou a liberdade em poder possuir desmedidamente, transformou a razão em instrumentalização técnico-científica, elegeu o mercado como detentor do poder máximo”.
De acordo com Rojas (2013) as conquistas técnicas e científicas propiciaram avanços evidentes: a revolução da informática, os progressos da ciência em seus diversos aspectos, uma nova ordem social, uma preocupação com os direitos humanos, a democratização de tantos países etc. Por outro lado, esse mesmo autor sinaliza aspectos da realidade que funcionam mal e que mostram a outra face da moeda: materialismo que faz com que um indivíduo obtenha certo reconhecimento social pelo simples fato de ganhar muito dinheiro; hedonismo em que viver bem a qualquer custo é o novo código de comportamento e significa a morte dos ideais, a ausência de sentido e a busca de uma série de sensações cada vez mais novas e excitantes; permissividade que arrasa os melhores propósitos e ideais; relativismo de tudo, o que leva a regras presididas pela subjetividade; consumismo que representa a fórmula pós-moderna da liberdade.
Com isso, valores antes referenciais para a vida em sociedade tornam-se obsoletos, ou configuram atraso em relação às ideias de mercado. Vive-se sem balizas disciplinares e institucionais e o ser humano acaba mergulhando na sua própria subjetividade, na esfera privada, num verdadeiro culto ao individualismo de cunho narcisista, gerando um processo de isolamento e de perda da própria essência humanizadora.
Dos meandros dessa realidade sociocultural vai surgindo o novo perfil de ser humano, produto de seu tempo. Rojas (2013) indica que é possível delinear alguns componentes ao perfil desse “novo” ser humano: pensamento fraco, convicções sem firmeza, assepsia nos compromissos, indiferença sui generis feita de curiosidade e relativismo ao mesmo tempo. Esse mesmo autor aponta que a ideologia é o pragmatismo, a norma de conduta, a vigência social: que vantagens leva, o que está na moda; a ética se fundamenta na estatística, substituta da consciência; a moral repleta de neutralidade, carente de compromisso e subjetividade, fica relegada à intimidade, sem se atrever a sair em público.
Esses contornos complexos da vida moderna se tornam presentes nas rotinas escolares das mais variadas formas, inclusive por meio das ações docentes. Compreender o contexto mundial, para compreender o contexto local da unidade escolar é processo essencial no desenvolvimento reflexivo da práxis pedagógica.
Libâneo, Oliveira e Toschi (1998, p. 598-599) também analisam aspectos da sociedade contemporânea e destacam a importância, nessa nova realidade mundial, que a ciência e a inovação tecnológica adquirem. Estas têm levado os estudiosos a denominarem a sociedade de hoje de sociedade do conhecimento (DRUCKER, 1999), de sociedade técnico informacional (CASTELLS, 1999), de sociedade tecnológica (SANTOS, 1996), outros ainda, seguindo a tradição cronológica, de terceira revolução industrial (KUMAR, 1997). Com essa lógica o conhecimento, o saber e a ciência adquirem um papel muito mais destacado e por isso mesmo as pessoas aprendem na fábrica, na televisão, na rua, nos centros de informação, nos vídeos, no computador e, cada vez mais, vão se ampliando os espaços de aprendizagem. Como consequência, a educação é oferecida como uma mercadoria.
Frente a essa realidade do mundo contemporâneo, Libâneo (2002) destaca alguns aspectos importantes sobre o posicionamento docente. Segundo ele, o professor, ao desenvolver sua prática pedagógica diante das transformações atuais, deve: assumir o ensino com mediação; adotar práticas interdisciplinares; conhecer estratégias de ensinar a pensar e ensinar a aprender; mediar os alunos a buscarem uma perspectiva crítica dos conteúdos; desenvolver um processo comunicacional e capacidades comunicativas; reconhecer o impacto das novas tecnologias de comunicação e informação na sala de aula; atender a diversidade cultural; respeitar as diferenças no contexto da escola; participar de formação continuada; integrar ao ensino a dimensão afetiva e desenvolver comportamentos éticos. Observa-se que isso constitui uma gama enorme de exigências que se impõem ao professor, como forma deste concretizar de modo atualizado o ato de ensinar.
E é considerando esse contexto cultural, social e econômico, complexo, dinâmico e paradoxal, que a escola pública estadual de educação básica está imersa. Rios (1993, p. 45) aponta que a escola “tem características específicas e cumpre uma função determinada, na medida em que está presente e é constituinte de uma sociedade que se organiza de maneira peculiar, historicamente.” Nesse espaço o professor concretiza sua prática. E assim, vai constituindo a sua identidade. Moraes (2004, p. 221), em estudos sobre um novo paradigma para a educação escolar, propõe que se abandone a identidade “de um professor disciplinador, condicionador, que monopoliza a relação, a informação e a interpretação dos fatos, que sabe impor e induzir respostas, (e se busque) […] formar um novo mestre que saiba ouvir mais, observar, refletir, problematizar conteúdos e atividades, propor situações-problema, analisar 'erros', fazer perguntas, formular hipóteses e ser capaz de sistematizar. É ele o mediador entre o texto, o contexto e o seu produto”. E isso constitui desafios para a formação de identidade docente em consonância com a escola que aí está.
Mas que identidade é essa? Como ela se constitui? Qual sua importância enquanto categoria de análise do trabalho docente?


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGOSTINI, N. Pós-modernidade e ser humano. Revista de Cultura Teológica, fascículo 63, 2008, p. 113-126
CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
DRUCKER,P. F. Sociedade pós-capitalista. 7. ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999.
GADOTTI, M. Ação pedagógica e prática social transformadora. Educação e Sociedade, v.1, n. 4, p. 5-14, set. 1984.
GASPARINI, S. M.; BARRETO, S. M.; ASSUNÇÃO, A. A. O professor, as condições de trabalho e os efeitos sobre sua saúde. Revista Educação e Pesquisa, vol.31, n.2, São Paulo, Mai/Ago. 2005.
HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.
KUMAR, K. Da sociedade pós-industrial à pós-moderna: novas teorias sobre o mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
LIBÂNEO, J. C. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educativas e profissão docente. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
______; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. 7 ed. São Paulo: Cortez, 2009.
MORAES, M. C. O paradigma educacional emergente. 10 ed. Campinas: Papirus, 2004.
RIOS, T. A. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 1993.
ROJAS, E. O homem moderno: a luta contra o vazio. 22. ed. Curitiba: Editora do Chain, 2013.
SANTOS, M. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
SAVIANI, D. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses sobre educação e política. 31. ed. Campinas: Autores Associados, 1997.
______. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações polêmicas do nosso tempo. 7. ed. São Paulo. Autores associados, 2008.


Para ampliar o debate, leia também sobre Dermeval Saviani.

(Clique no título a seguir)


DERMEVAL SAVIANI


QUESTIONAMENTOS I
  1. Levando em consideração o contexto mundial e local, como o professor que atua na escola percebe o seu papel?
  2. Qual é o perfil de quem escolhe a profissão professor hoje? Ou, de quem inicia na profissão docente?
  3. Quais as consequências, para a escola, das novas exigências impostas pela sociedade contemporânea?
  4. A partir de seu trabalho, que valores o professor pode transmitir e desenvolver no cotidiano da escola, ao trabalhar com seus alunos e na convivência com seus colegas?
  5. O que leva muitos professores a se desmotivarem com a educação e, em consequência, a não se comprometerem com um projeto educativo e com o Projeto Político Pedagógico da escola?
  6. Em que se situações se percebe o individualismo e o isolamento no trabalho do professor?

quarta-feira, 5 de março de 2014

TEXTO 2: O professor e a sua identidade

Autor: Alexandro Muhlstedt (2013)
Pedagogo - Colégio Estadual do Paraná


Uma instituição não tem cara e não tem alma, não tem histórias...
Cara e história têm pessoas que ali trabalham.
E são elas que lhe fornecem alma.
(Luiz Fernando Veríssimo)



Não há educação fora das sociedades humanas
e não há homem no vazio.
(Paulo Freire)



A identidade é resultado a um só tempo estável e provisório, individual e coletivo, subjetivo e objetivo, que, conjuntamente, constroem os indivíduos e definem as instituições.


(Claude Dubar)


É na escola que o professor desenvolve seu trabalho por meio do exercício de sua profissão. Nesse espaço assume a responsabilidade de trabalhar com o conhecimento historicamente elaborado, situando-o sem neutralidade. A prática profissional do professor não é a simples aplicação dos saberes acadêmicos, mas, sim, a realização de um processo de “filtração, onde eles (os saberes) são transformados em função das exigências do trabalho” (TARDIF, 1999, p.17). E a prática pedagógica do professor é concretizada quando realiza o processo de ensino. Mas essa prática não é dada simplesmente, ela precisa ser lapidada e construída por um processo de profissionalização, sendo que é por meio da convivência no cotidiano escolar que o professor vai constituindo sua identidade e concretizando essa profissionalização. Nesse caso, “o termo profissionalização indica o processo de formação de um sujeito numa profissão, que se inicia com a formação inicial e atravessa todos os momentos de formação continuada” (PENIN 2009, p. 25).
O professor tem uma atividade que deriva do latim professus, “aquele que declarou em público”, do verbo profitare, “declarar publicamente, afirmar perante todos”. Os dicionários (Aurélio, Luft, Michaelis) definem professor como “aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina”. Trata-se, então, de um sujeito que se declara apto a ensinar. E o processo de ensinar, ação desse profissional, situa-se numa sociedade determinada, em contextos bem delimitados que necessitam ser compreendidos e avaliados.
Nesse sentido, as condições do contexto contribuem ao que se pode denominar como a competência profissional do professor. Esta ocorre na práxis, ou seja, por meio da ação concreta em seu fazer pedagógico. Não se é competente de uma vez por todas, mas “ela (a competência) se amplia na construção coletiva, na partilha de experiências, de reflexão” (RIOS 2001, p.91). E sem prática, não há como conferir competência a quem se denomina professor.
Ao realizar sua função com competência, o professor realiza seu papel social que é o de orientador, o do formador de seus alunos por meio do conhecimento. Considerando o professor como sujeito de suas ações não é mais possível associar a docência somente à vocação, ao amor, à abnegação, à doação e à missão, vinculando o ensino como transferência de informação e a aprendizagem, como o recebimento e a armazenagem de informações. Para ser professor, cumprindo seu papel social e construindo-se como sujeito, não basta gostar de ensinar e dominar conhecimentos específicos de determinada área e algumas habilidades técnicas. É preciso algo mais, é preciso articular os conhecimentos elaborados na academia (formação inicial) e as informações do mundo globalizado, com os conhecimentos da prática (formação continuada e experiência). Inclui-se aí a sensibilidade para refletir, atenta, crítica e criteriosamente, as ações do cotidiano.
Em consequência, é possível perceber que a identidade do professor vai sendo forjada através de duas perspectivas: uma, a partir da formação adquirida no ensino superior, em curso de licenciatura – a técnica, e a outra, pela formação vivida na prática – a experiência.
O professor, enquanto técnico, tem em sua trajetória de formação as instituições de ensino superior, via de regra, que se apoiam no modelo de ‘racionalidade técnica’, onde a resolução de problemas colocados pela prática está relacionada ao domínio e à aplicação de teorias científicas (BOLFER, 2008. p. 46). A racionalidade técnica na formação de professores acaba por defender, simplesmente, a aplicação do conhecimento e do método científico, ou seja, uma racionalidade instrumental. Essa posição, porém, se depara com situações do mundo real que frequentemente são complexas, singulares e imprevisíveis, não apresentando estruturas bem delineadas, mas caóticas e indeterminadas. Em contraposição a isso, nota-se a exigência para a formação docente que leve em consideração uma racionalidade prática, a qual supõe a existência de um professor reflexivo que examina os resultados de suas ações (do ponto de vista pessoal, acadêmico ou sócio-político).
Na racionalidade prática, o professor vai aprendendo a ser professor e a como agir na ação. Nesse processo de profissionalização o professor age também de acordo com as representações de suas experiências como aluno, ora imitando os bons professores, ora rejeitando ações pedagógicas consideradas negativas ou inadequadas. Afinal, o professor já tem certa experiência e uma espécie de leitura da docência pelos anos vividos como aluno, na educação básica e no curso de licenciatura. Assim, desenvolve, historicamente, padrões metodológicos que combinam os seus conhecimentos acadêmicos e suas experiências vivenciadas com os alunos, no cotidiano escolar. O conjunto de saberes que explica suas ações e que o identifica na profissão – construído pelo próprio professor – dimensiona a relação que o professor estabelece entre sua formação e sua prática.
As experiências docentes, que constituem a historicidade do sujeito, quando valorizadas, possibilitam, no coletivo, refletir e recriar novos conhecimentos. Como consequência, o docente vai forjando sua identidade e cristalizando ações, posturas e modos de pensar o mundo. Afinal, somente a formação técnica (acadêmica) do professor não é suficiente para sua ação pedagógica na docência, tendo em vista que os conhecimentos elaborados a partir da prática são fundamentais para a constituição de sua identidade, sendo que já há um conjunto de procedimentos éticos e morais que precedem a atuação do professor, bem como o contexto social no qual a unidade escolar está situada. Sobre isso, Berger e Luckmann (1985) explicam que a identidade se configura como um elemento chave da subjetividade e da sociedade, formando-se e sendo remodelada através dos processos e relações sociais. As identidades são singulares ao sujeito e produzidas a partir de interações do indivíduo, da consciência e da estrutura social na qual este está inserido, sendo a “identidade um fenômeno que deriva da dialética entre um indivíduo e a sociedade” (p. 230).
Pimenta (2012, p. 22) alerta para “a natureza do trabalho docente (que) é ensinar como contribuição ao processo de humanização dos alunos historicamente situados.” Nesse sentido, a atuação competente do professor exige deste os conhecimentos constituídos em sua formação inicial e os conhecimentos que são elaborados em sua prática cotidiana. Essa prática é construída pelas vivências cotidianas na sala de aula e apropriação dos modos de agir da profissão que incluem procedimentos éticos, morais, pedagógicos e sociais. Essa interação possibilita o desenvolvimento pessoal e social do sujeito.
A identidade pessoal e a identidade construída coletivamente são essenciais para definir a identidade profissional do indivíduo. A esse respeito Pimenta (1997, p. 07) define que a identidade profissional “[...] se constrói a partir da significação social da profissão e, também, pelo significado que cada professor, enquanto ator e autor confere à atividade docente de situar-se no mundo, de sua história de vida, de suas representações, de seus saberes, de suas angústias e anseios, do sentido que tem em sua vida: o ser professor”.
A identidade docente constitui-se então numa construção que envolve o professor em sua individualidade, mas que o envolve, também, como ser histórico e social. Nas reflexões de Dubar (2005), a constituição da identidade é resultante de diferentes socializações, revelando-se produto inacabado marcado por sucessivas transformações. No que diz respeito à construção da identidade profissional de docentes, Gatti (1996) alerta para a necessidade de perceber a ação tanto dos sujeitos construtores quanto das circunstâncias em que tal construção ocorre.
Essa identidade profissional, expressão inspirada nos trabalhos desenvolvidos por Dubar (2005), pode ser empregada não somente como a maneira socialmente reconhecida pelos indivíduos de se identificar uns aos outros no campo das atividades remuneradas, mas também, e em especial, como a projeção que os indivíduos fazem de si no futuro, como a antecipação de uma trajetória de emprego a ser viabilizada por certos investimentos na formação. Não se trata simplesmente da escolha de uma profissão ou da obtenção de um certo diploma, mas da construção de estratégias de identificação, que colocam em perspectiva a imagem de si, a apreciação de suas próprias aptidões e capacidades, a realização de seus desejos.
Afinal, ao ingressar na profissão docente, o sujeito já tem diante de si um universo de dispositivos legais e regulamentares que delineiam seu estatuto profissional e definem os termos de troca entre tempo e salário. São as legislações prescritas que determinam os modos de atuação na prática pedagógica do professor. Uma dessas leis é a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96). À luz da legislação federal, todos aqueles profissionais de Educação Escolar, em particular os das redes oficiais de ensino, que ingressam no serviço público através de concurso público de provas e títulos são, portanto, detentores de cargos públicos e, por isso, têm incumbências enumeradas ou responsabilidades explicitadas pelo Estado.
Em seu artigo 13 a LDB estabelece as incumbências aos docentes que são: participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; zelar pela aprendizagem dos alunos; estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento; ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade.
Nesse artigo da LDB é possível perceber três componentes principais que atuam na constituição da identidade docente: 1 – posicionamento do professor como aquele a quem incumbe zelar pela aprendizagem do aluno - inclusive daqueles com ritmos diferentes de aprendizagem tomando como referência, na definição de suas responsabilidades profissionais, o direito de aprender do aluno, o que reforça a responsabilidade do professor com o sucesso na aprendizagem do aluno; 2 - associação do exercício da autonomia do professor, na execução de um trabalho próprio, ao trabalho coletivo de elaboração da proposta pedagógica da escola e 3 – ampliação da responsabilidade do professor para além da sala de aula, colaborando na articulação entre escola e a comunidade.
Ainda em referência à legislação vigente, de acordo com o artigo 82 da Lei Complementar 007/1977, que dispõe sobre o Estatuto do Magistério do Estado do Paraná, todo professor “tem o dever constante de considerar a relevância social de suas atribuições, cabendo-lhe manter conduta moral, funcional e profissional adequada à dignidade do Magistério”, apresentando um conjunto de normas a serem observadas pelos docentes em sua ação pedagógica na escola pública. Vale ressaltar que esta lei foi implantada em um contexto de restrição de liberdades democráticas e forte intervencionismo político (Ditadura Militar), ficando bastante evidenciados os preceitos morais e políticos daquele momento histórico.
Essas incumbências, articuladas a outros elementos mais particulares da unidade escolar, como o Projeto Político Pedagógico, o Regimento Escolar e o Regulamento Interno compõem as obrigações, normas e deveres do trabalho prescrito do professor, sendo estes “aspectos que antecedem a realização do trabalho e que os professores precisam levar em consideração para desenvolvê-lo” (ALVES, 2010. p. 149).
No entanto, em se tratando do que ocorre no cotidiano escolar, é comum observar que a atividade docente de planejar, estudar e organizar o ensino confundem-se com as atividades de compreender como o aluno aprende, vencer a falta de motivação do aluno, gerenciar conflitos, fazer cursos, preencher documentos, etc. Tudo isso contribui para a elaboração de formas de perceber a escola e de como a identidade docente vai se constituindo. Nota-se que na construção da identidade do professor tem havido, por falta de análise mais apurada, um certo empobrecimento do conteúdo do seu trabalho, tendo em vista ser comum o professor deparar-se, nas diversas realidades escolares, com atividades de resolução de questões acessórias ou secundárias em detrimento das essenciais. De certo modo, o professor se torna gestor dos conflitos alheios e vítimas de seus próprios conflitos, dificultando que a reflexão de sua ação, na sua ação, ocorra de modo adequado. O cotidiano escolar, repleto de atividades desgastantes, consomem tempo e energia, não possibilitando que o professor realize uma reflexão crítica sobre a própria atuação.
Quando se observa esse cotidiano do trabalho do professor verifica-se que este está imerso em atividades escolares com os alunos que parecem prolongamento dos cuidados da família, protegendo os mais fracos e desvalidos, ocupando o tempo ocioso das ruas, atendendo as necessidades básicas (através da alimentação, das merendas, bolsa-escola), e, eventualmente, provendo conhecimentos e formação cultural. Com isto, pode-se dizer que aspectos importantes na relação educacional e docente vem sofrendo modificações. A realidade de trabalho na escola vem mudando, assim como a própria escola. Afinal, esta já não é mais a mesma como há algumas décadas, assim como os alunos, que depositam outras expectativas e atribuem outros valores à instituição.
Por outro lado, como destaca Enguita (1991) “[...] os educadores podem ser mártires, mas isso não garante que sejam santos”, pois o funcionamento do ensino público, somada à relativa autonomia de cada docente no exercício de seu trabalho permite que seus rendimentos e esforços individuais se movam em graus de grande amplitude. As atitudes e os comportamentos do professor, explica o autor, não são iguais, podendo ir desde uma alta preocupação com seu trabalho, um desejo constante de atualização, uma elevada responsabilidade etc. até a passividade, a rotina e a aplicação da lei do menor esforço mais absolutas. Há ainda, professores que preferem trabalhar apenas o mínimo, conformando-se em receber pouco, em troca de não dar mais. Com esse comportamento, degradam a imagem de sua categoria e cerceiam as oportunidades daqueles que trabalham mais duramente sem ver reconhecido o valor de seu trabalho.
Enguita (1991, p. 60) ainda considera que “[...] um setor do professorado encontra em sua vocação e responsabilidade estímulo suficiente para render adequadamente em seu trabalho; para estes, o problema é simplesmente de justiça: que seu bom trabalho seja reconhecido e recompensado. A questão é que a organização do corpo docente, como a de qualquer outro, não pode estar baseada na presunção da boa vontade individual e carecer de meios para atuar quando esta não exista; ao contrário, deve estar organizada à prova da pior vontade, ou da falta de qualquer vontade, e contar com os meios para recompensar a boa e, onde não exista, criá-la ou aproximar-se dos mesmos resultados através de outras motivações”.
Por isso, é importante questionar: como construir uma identidade docente que seja científica, educadora e política?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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BERGER, P. L. ; LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento. 6 ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
BOLFER. M. M. M. de O. Reflexões sobre prática docente: estudo de caso sobre formação continuada de professores universitários. 237 f. Tese de Doutorado em Educação da Universidade Metodista de Piracicaba, Piracicaba, 2008. (mimeo)
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DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. São Paulo: Martins Afonso, 2005.
ENGUITA, M.F. A ambiguidade da docência: entre o profissionalismo e a proletarização. Revista Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 4, p. 41-61, 1991.
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PARANÁ. Lei Complementar 007/1977 – Estatuto do Magistério, 22 de dezembro de 1976. Dispõe sobre o Estatuto do Magistério Público do Ensino de 1º e 2º graus, de que trata a Lei Federal n.º 5.692, de 11 de agosto de 1971, e dá outras providências. DIOE: 13/01/1977.
PENIN, S; Profissão docente e contemporaneidade. In ARANTES, V. A. (Org.). Profissão docente: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2009. p. 16-39.
PIMENTA, S. G. Saberes pedagógicos e atividade docente. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2012.
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PLACCO, V. M. N. de S. Perspectivas e dimensões da formação e do trabalho do professor. In: Simpósio: A formação docente sob diversos olhares e o compromisso com a inclusão social, 2006.
RIOS, T. A. Ética e Competência. São Paulo: Cortez, 1993.
SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. Polêmicas do nosso tempo. 7. ed. São Paulo. Autores associados, 2000.
TARDIF, M; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

Para ampliar o debate, leia o texto sobre Maurice Tardif.

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MAURICE TARDIF


QUESTIONAMENTOS II
  1. De onde vem o interesse pela profissão docente? Que motivações conduzem os sujeitos ao magistério?
  2. Baseado na sua vivência e no seu cotidiano, como descreveria a realidade escolar a um estudante de Licenciatura?
  3. De modo geral, quais são os valores presentes nos discursos e na prática dos professores?
  4. Quais seriam as atividades escolares que competem ao professor e que atividades são desenvolvidas na escola que podem ser consideradas acessórias ou secundárias em relação a sua verdadeira função no ensino?
  5. Em que medida o ambiente e a cultura da escola interferem no fazer pedagógico do professor?


TEXTO 3: O professor e a sua prática: do habitus ao conceito de profissionalidade

Autor: Alexandro Muhlstedt (2013) 
Pedagogo - Colégio Estadual do Paraná


Do diálogo entre o já adquirido e o que ora se adquire, e uma certa nuance do devir, surgem sincretismos que correspondem à emergência de uma nova dimensão do ser, não estática, nunca terminada, sempre sujeita a mudanças, a reconstruções identitárias.
(Ricardo Vieira)


A presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da Historia.
(Paulo Freire)


É na inconclusão do ser, que se sabe como tal, que se funda a educação como processo permanente.
Mulheres e homens se tornaram educáveis,
na medida em que se reconheceram inacabados.

(Paulo Freire)



É no contexto mundial da sociedade contemporânea, e também local, de lógica capitalista, com forte presença da ideologia neoliberal, que a escola pública de educação básica do Paraná está situada e onde configura-se o espaço de formação da identidade docente do professor. As questões econômicas, de mercado, entram na escola por meio de mecanismos que causam, entre outras coisas, problemas de repetência, evasão dos alunos e, ao professor, um desânimo e adoecimento físico e mental. E este quadro não pode servir de tônica única para a formação política do professor, visto que o fazer pedagógico do professor não pode ser deixado de lado, assim como a consciência política não pode ser desvinculada da ação do professor.
A consciência política alivia as culpabilizações emocionais individuais e coletivas e contribui para construir autoestima com a profissão, identificar-se com o fazer pedagógico docente e entender também os limites da ação profissional.
Como já foi mencionado, é por meio de sua atuação que o professor vai constituindo sua práxis e os saberes da experiência. Estes, como exercício da prática cotidiana da profissão, são fundados no trabalho e no conhecimento do meio. “São saberes que brotam da experiência e são por ela validados. Incorporam-se à vivência individual e coletiva sob a forma de habitus e de habilidades, de saber fazer e de saber ser” (TARDIF, 1991. p. 220).
Dialogar com os saberes da experiência, que têm origem na prática cotidiana do professor em confronto com as condições de trabalho, se torna fundamental para compreender que eles "...não são saberes como os demais, eles são, ao contrário, formados de todos os demais, porém retraduzidos, 'polidos' e submetidos às certezas construídas na prática e no vivido" (TARDIF, 1991. p. 232).
O processo de construção dos saberes da prática não é automático. Dominar tais saberes não garante a competência técnica e política da ação docente. Uma das formas de compreender como esse processo se realiza é trabalhar com a categoria de habitus de Bourdieu. Tal categoria pode ser compreendida no contexto de trabalho do professor como disposições adquiridas na e para a prática real, e que permitem ao professor enfrentar os desafios imponderáveis da profissão, constituindo a condição básica para um novo profissionalismo.
Habitus é conceito capaz de conciliar a oposição aparente entre realidade exterior e as realidades individuais.
Pensar a relação entre indivíduo e sociedade, entre professor e escola, com base na categoria habitus implica afirmar que o individual, o pessoal e o subjetivo são simultaneamente sociais e coletivamente orquestrados. O habitus é uma subjetividade socializada (BOURDIEU, 1992, p. 101).
Analisar a ação docente, tendo como base e ferramenta a categoria habitus, propicia a compreensão da relação que se estabelece entre os condicionantes sociais exteriores (condições de trabalho do professor, por exemplo) e a subjetividade dos sujeitos (formas de proceder em sala de aula, por exemplo). Habitus não é fatalidade. Habitus é consequência de uma trajetória de vida que auxilia a pensar as características de um ser social (no caso, o professor) e que se materializa como um sistema de disposições ora consciente ora inconsciente de suas escolhas (no caso, a práxis docente). Por meio do conceito habitus entende-se “o processo de constituição das identidades sociais no mundo contemporâneo, uma vez que o habitus passa a ser o social incorporado” (SETTON, 2002, p. 33).
Bourdieu (2004, p. 134) assevera que o habitus é produto da inculcação exercida pelas condições objetivas de existência, e este ao ser incorporado através de um processo longo, é transformado em uma forma de ser, pensar e agir presente em cada indivíduo, oportunizando uma quebra entre individuo e sociedade, sendo o habitus o princípio não escolhido de tantas escolhas que desespera os nossos humanistas
As atividades que são desenvolvidas na escola, coordenadas pelo professor, criam o ser social. O meio utilizado são as estratégias educacionais que são movidas pelos habitus tanto do professor (com seus saberes adquiridos e incorporados na sua trajetória de vida) como dos alunos e esses vão sendo mobilizados durante todo o processo educacional.
Setton (2001, p.61) explica habitus como “uma matriz cultural que predispõe os indivíduos a fazerem suas escolhas.” Assim, pode se compreender que o habitus profissional do professor é constituído antes mesmo de sua inserção no espaço escolar. Uma vez desenvolvendo sua práxis pedagógica e construindo seus saberes docentes, o professor pode questionar seu habitus, buscando compreender, por meio da reflexão, a sua própria ação. Com isso, construir novo habitus a partir de ações experienciadas na prática.
A partir da categoria habitus é possível compreender o sujeito no mundo. Nesta perspectiva, há uma tendência em reduzir a prática docente a uma prática individualizada. A crise que ocorre nas instituições sociais afeta sobremaneira o fazer pedagógico docente. Afinal, o processo de globalização acompanhado ao avanço tecnológico tem provocado alterações significativas na sociedade atual. O destaque é a individualização, a luta pelos direitos individuais e a busca pela afirmação da identidade.
Perceber o professor e desvelar sua ação docente no interior da escola é percebê-lo neste contexto altamente globalizador, na perspectiva de indivíduo e sujeito ativo no processo de seu trabalho. A finalidade da educação escolar na sociedade tecnológica, multimídia e globalizada, grosso modo, é trabalhar os conhecimentos científicos e tecnológicos, desenvolvendo aptidões para operá-los, revê-los e reconstruí-los. Inegável o papel do professor para conduzir de modo competente e coerente este processo. Ao analisar a prática educativa do professor, há que se levar em consideração os seus processos de formação e desenvolvimento profissional, haja vista que sua função docente abrange enorme quantidade de atribuições e atividades.
Enquanto prática social, a educação ocorre em inúmeras instituições da sociedade, mas é na escola, enquanto processo sistemático e intencional, que esta ocorre com destaque. E é justamente no trabalho do professor que este processo acontece. Assim, no trabalho com seus alunos, o professor assume uma responsabilidade que é pedagógica, ao mesmo tempo que é social e política.
A formação profissional do professor é construída, pois, por diversificadas experiências que compõem e fundamentam a prática pedagógica. Construir-se professor requer, desde a formação inicial, a constante reflexão do que se faz, como se faz e como deveria ser feito. Esse movimento de construir e reconstruir a prática pedagógica resulta no processo dialético que norteará a formação profissional
Nas atuais tendências investigativas sobre a docência, a constituição da profissionalidade do professor vem emergindo como uma temática relevante, que tem como referência os contextos e processos envolvidos na constituição do ser professor. Sacristán (1995, p. 65) entende a profissionalidade como, “[...] a afirmação do que é específico na ação docente, isto é, o conjunto de comportamentos, conhecimentos, destrezas, atitudes e valores que constituem a especificidade de ser professor”. De acordo com Ambrosetti e Almeida (1999) o conceito de profissionalidade sugere uma nova perspectiva para a docência visando compreendê-la, em sua complexidade, como uma construção que se dá nas relações entre os indivíduos e os espaços sociais nos quais exercem sua atividade profissional. Na perspectiva da profissionalidade os professores são compreendidos como atores sociais que, agindo num espaço institucional dado, constroem nessa atividade sua vida e sua profissão. Como destacam Tardif e Lessard (2005, p. 38), os professores são atores que “[...] dão sentido e significado aos seus atos, e vivenciam sua função como uma experiência pessoal, construindo conhecimentos e uma cultura própria da profissão”. Nesse sentido, as dimensões do social e do psicológico se integram nas formas de viver o trabalho e de se identificar com a profissão.
Para atender os requisitos da profissionalidade docente, Contreras (2002) apresenta três dimensões constitutivas deste conceito: 1. a obrigação moral por ser o ensino uma atividade que supõe um compromisso de caráter moral para quem o realiza; 2. o compromisso com a comunidade na qual os professores devem realizar a prática profissional, pois educação não é um problema da vida privada do professor, mas uma ocupação socialmente encomendada e responsabilizada publicamente e 3. a competência profissional para o cumprimento da obrigação moral e o compromisso com a comunidade, que combinam habilidades, princípios e consciência do sentido e das consequências das práticas pedagógicas.
Para Contreras (2002), ainda, a profissionalidade se refere às qualidades da prática profissional dos professores em função das exigências do trabalho educativo. Nesta perspectiva, falar de profissionalidade significa, “[...] não só descrever o desempenho do trabalho de ensinar, mas também expressar valores e pretensões que se deseja alcançar e desenvolver nesta profissão”.
Entendendo, então, a profissionalidade como um processo de constituição e identificação profissional, é desenvolvido pelos professores ao longo de sua trajetória, nos diferentes espaços de socialização, desde a escolarização básica, passando pela formação profissional e, principalmente, na organização escolar, onde os professores exercem, aprendem e desenvolvem a profissão. Esse processo envolve uma relação dialética entre as condições sociais e institucionais colocadas ao trabalho docente e as formas de viver e praticar a docência, desenvolvidas pelos professores individual e coletivamente, que são constituídas e constituem o contexto escolar.
A formação docente (inicial e continuada) apresenta assim duas facetas: pode ser considerada como espaço de aquisição e de reforço do habitus de ensinar (nos termos propostos por Bourdieu) e como espaço de construção de uma “identidade profissional”, que não somente opõe-se à “identidade vocacional” mas propõe-se a superá-la. E é aí que reside o processo de profissionalidade docente, quiça torne-se o principal instrumento de conquista de um maior prestígio social da profissão, de melhores condições de trabalho e remuneração, de desenvolvimento de uma consciência crítica, de engajamento nas lutas do magistério e na transformação social.
Discutir a profissionalidade docente é ir para além da formação pedagógica, é trazer também, como objeto de estudo, os caminhos que o próprio professor busca para alcançar seu desenvolvimento profissional. Nessa perspectiva, os saberes docentes têm muito a contribuir. Segundo Tardif (2002), existem diferentes formas de se analisar os saberes construídos pelos professores, referenciados pelo autor com base em três dimensões: social, temporal e plural. Os saberes sociais são adquiridos na relação com o outro (aluno, pares, instituição, sociedade), no contexto de uma socialização profissional; os saberes temporais ocorrem ao longo da vida do professor, mesmo antes que inicie sua carreira docente; e finalmente, os saberes plurais, que emanam de várias fontes: “O saber dos professores é plural, compósito, heterogêneo, porque envolve, no próprio exercício do trabalho, conhecimentos e um saber-fazer bastante diversos, provenientes de fontes variadas e, provavelmente, de natureza diferente.” (TARDIF, 2002, p. 18).
Há que considerar que na elaboração desses saberes a experiência como aluno é parte constituinte da identidade docente, é um tipo de habitus que poderia explicar determinadas escolhas e comportamentos na prática pedagógica. Afinal, a vivência como aluno também traz raízes tradicionalistas sobre a forma de ensinar, a concepção de aluno, a visão da educação e o papel da escola. Tardif (2002, p. 74-75) reforça que essa vivência pode levar a um “[...] papel institucionalizado do professor [...]”, que pode expressar dificuldades em acatar o novo, por manter “[...] esquemas de ação e interpretação implícitos, instáveis e resistentes através do tempo.” Essa cristalização de ideias e comportamentos poderia ser um dos aspectos que explicaria as dificuldades de alguns professores em analisar, criticamente, a sua atuação docente ou mudar comportamentos.
Por fim, a atividade de ensino é um processo complexo que envolve os mais diferentes saberes: pedagógicos, sociais, culturais, afetivos, políticos, históricos, etc. É na atuação profissional que o professor aprende e coloca em ação os saberes de que dispõe. Os processos formativos não estão somente nos cursos de formação inicial e continuada, mas nas mais diferenciadas vivências pelas quais passa o professor. O cotidiano da sala de aula, por exemplo, pode ser um “lócus” de construção de saberes, pois eles fornecem elementos que auxiliam na resolução de questões específicas da sala de aula, sendo que as situações reais vividas em sala podem ser geradoras de saberes docentes. E é essa clarificação do “ser docente” e dos “saberes docentes” que compõem, também, o processo de profissionalidade permeado por um processo reflexivo e crítico.
A ideia de profissionalidade repõe, então, a centralidade dos professores como atores da prática educativa. Que importância tem, então, essa centralidade no ato de ensinar, de concretizar o currículo na sala de aula?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMBROSETTI, N. B.; ALMEIDA, P. C. A. de. Profissionalidade docente: uma análise a partir das relações constituintes entre os professores e a escola. In: Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 90, n. 226, p. 592-608, set./dez. 2009.
BOURDIEU, P. Coisas Ditas. São Paulo: Brasiliense, 2004.
CONTRERAS, J. A autonomia de professores. São Paulo: Cortez, 2002.
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TARDIF, M. . Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2002.
______; LESSARD, C. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. 7 ed. Petrópolis: Vozes, 2012.

Para ampliar o debate, leia também o texto sobre Pierre Bourdieu:

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PIERRE BOURDIEU


QUESTIONAMENTOS III
  1. Atualmente, quais são as condições de trabalho do professor na escola pública estadual? Quais seriam as condições ideais?
  2. Quais são os elementos que demonstram desprestígio social da profissão docente? Quais são as características dessa desvalorização?
  3. O que o professor aprende ao agir no cotidiano escolar? Como ele constrói a sua prática? Quais são as formas mais comuns para se identificar como professor?
  4. O que caracteriza o “bom” professor?
  5. Quais são as formas de atualização e reflexão que ocorrem como formação continuada aos professores do Paraná? Qual a validade dessa formação para a prática cotidiana?